No Vale das Ilusões Perdidas, lócus que não está situado em lugar algum, porquanto habita os quatro cantos do mundo desde e para todo o sempre, um velho turrão chamado Valdovino controla com o mesmo rigor as férteis baixas produtoras de arroz até os estirões mais ermos de terras salpicadas de pedregulhos. Ao lado da esposa, d. Esmeraldina, aguardam o regresso dos dois filhos que foram estudar na capital e, desde então, nunca mais retornaram ao casarão alpendrado em quatro águas. Solitário, em uma das idas quinzenais à vila, o velho surpreende ao chegar em casa com uma menina. A garota sofre de uma deficiência física e só conseguirá sair da cama onde ficara a primeira semana inteira, quando, enfim, interage com um menino, o fiel escudeiro do velho Valdovino e “narrador ocular” dessa história. A partir de então, Luna começa a explorar o vale na companhia do seu mais novo — e talvez único — amigo, sentindo e questionando coisas das quais nem sabia da existência. Mais do que um encontro ocasional, no âmago da afetuosa relação que se construirá entre as duas crianças, emergem questionamentos existenciais envoltos em temas como memória, ancestralidade, sonho e fantasia. Tudo é forjado nas dimensões humanas de (co)existências contraditórias: menino x velho; vida x morte; sonho x realidade etc. Sabemos, de fato, quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? O passado que nos contam é a verdade propalada nas páginas oficiais da História? A mentira é a melhor das conveniências? Nas varedas e veredas do vale habita um silêncio que lateja, fala alto dentro de cada um de seus habitantes lacônicos, ricocheteia nas pedras, ressoa nos troncos e galhos, dormita engalanado nas raízes, enleva-se nos remansos das águas que vêm e vão; banhando os lajedos do Vale das Ilusões Perdidas.