“Tudo era pobreza, a paisagem cansou-se de comover a vista com alguma candura, a vida ali era desmantelo e solidão. Solidão nem sempre é estar sozinho, às vezes é um sentir que a alma nos foge, querendo outro lugar, porque aquele já não nos cabe. (...) O abandono é ainda pior que a solidão. A solidão a alma resolve, vai atrás do lugar, das pessoas, ou de si mesma. Abandono não! É quando não há quem nos queira, nem com alma, nem sem ela. Sentir-se abandonado é a grande tragédia da vida e do espírito. É a amargura maior de uma pessoa.”
Pi-wii é muito mais que uma narrativa sobre crianças abandonadas em situação de vulnerabilidade. A obra dá voz aos lampejos de monstruosidade que ecoam por tantas nações espalhadas pelo mundo. A leitura — envolvente e instigante — prende o leitor, suscitando sentimentos como raiva, medo, ódio, amor, empatia, e resgata valores há muito tempo esquecidos pelo homem, como o sentido da terra, da alma, da solidão e do abandono. As críticas sociais perpassam pela narrativa de forma leve, porém muito marcantes... fazem-nos parar... tomar um ar e prosseguir a leitura! É uma obra estonteante e, embora apresente páginas de difícil digestão, deixa-nos, primeiramente, embebidos de emoções distintas, atônitos, extasiados, mas, em um segundo momento, instiga-nos a rever quem somos e qual nosso lugar no mundo. É uma leitura que nos transforma, firma um contrato com o leitor e pressupõe a ação.